domingo, 9 de novembro de 2008


Poema ingénuo para Eugénio


Num fim de tarde laranja-estival
na paz basáltica da escada antiga,
mastigo pão de centeio pingando mel
num vestido-lua de alfazema madura.
Como um mestre, brilha na erva tisnada,
um gato amarelo, ou um poeta, que lambe
raios de sol desenhados pelas cerejeiras.

Então repito o teu jogo dos dias ácidos
para abafar o mofo das palavras vedadas,
abro ao acaso o livro Interdito de Eugénio :
“Eras o fruto/ nos meus dedos a tremer.
Podíamos cantar/ ou voar,/podíamos morrer”...

As mãos em concha recebem águas de íris
no silêncio ondulante da noite nas alcachofras,
as cerejas rubras tremem na aragem jovem,
enquanto os tordos viajantes cantam, voando baixo.
E nós ingénuos só podemos morrer com Eugénio...
Os outros versos serão lume nas sombras da lua,
numa noite de chuva miudinha refrescando o cerejal.

sábado, 18 de outubro de 2008

Viagem







Partir de mim com nada nas mãos,
contornar as ruínas perdidas na urze
do monumento sagrado que um dia foste
e olhá-las sem curiosidade, sem as tocar,
pelo raio fulminante de um instante-luz.

Passar entre os sulcos e rugas de pó,
avançar guiada pelo som das águas,
num desfiladeiro de pedras quartzo,
entre grutas, estalactites e tomilho,
sem encontrar o tesouro dos algares.

Entrar nas noites-lírio sem procurar
o mapa iluminado da estrela Sirius.
Percorrer uma a uma pela esfera lunar
as coisas que deixei para trás vazias,
sem sentir a falta real de nenhuma.

Viajar rumo ao horizonte de mim,
sem levar nada... nem sequer a ti,
nesta bagagem de palavras-fráguas
que arrasto a custo, com náuseas,
empurrando o vento e as certezas
de que esta é uma viagem circular,
até ao centro incandescente de mim.

domingo, 12 de outubro de 2008

Abismo


Abismo

Rio
correndo
serra abaixo,
saltando
afogando
esgueirando-se
entre mim e ti.
Somos
projectados
em cascata
que caí continuamente
sem vermos o fim.
No precipício
há uma gruta sem luz,
onde não entramos
onde recusamos
onde evitamos:
ser eu;
seres tu.


Na escuridão há fontes,
mas as mãos não estão em concha,
não nos matam a sede,
não nos sossegam as dúvidas.
Apenas relembram
o frio da serra
e a lua que lambemos
à falta de pão
à falta de vinho
à falta da nossa carne,
exposta nua à luz,
perdidos
em caminhos tortuosos
da mente em cascata
e em rios de renúncia .

Prontos?
Sim !
E saltamos para o abismo...

domingo, 5 de outubro de 2008

Filho das águas




A chuva humilhante escorre,
lembrando-nos a felicidade,
de corrermos à solta, fugindo
por entre os pingos de cristal.

No chão molhado e espelhado
pintamos aguarelas de cor e luz,
nas sombras cinzentas da noite
perdidas nas insólitas calçadas.

Aqui aprendemos a humildade
dos pequenos gestos naturais:
quando para não escorregares
me dás a tua pequena mão fria
e eu compreendo, filho das águas,
qual é realmente o meu lugar,

Nesse momento a metafísica
torna-se um jogo inocente de crianças.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Jogo



O rasto de uma linha perdidamente obtusa
traça a escuridão pálida dos olhares castrados,
umas asas diabolicamente bravas e sombrias
pairam na escuridão nervosa de uns dedos que
procuram a entrega explosiva da carne madura.

Não eram estas palavras de zinco que te queria dar,
mas todas aquelas de significado insuspeito e oculto,
despojos da loucura das rugas anunciadas no fumo,
restos de tudo o que julguei ser, além-quotidiano.

Finjo o que nunca fui, só para volteares na luz
inebriado, aprisionando quem ao toque não sou.
Invento-me só para poder raiar na distância
da noite, numa conversa branca que esconde o
lado oculto das pedras negras escondidas do sol.

As palavras sorriem em diagonal, mascaradas
mas sei que consegues ler o que te escondo,
embora finjas não ver, não sentir, não querer...

Este é afinal um jogo corrosivo, disputado e negado a dois.

domingo, 7 de setembro de 2008

Voos de cal





Numa distância aquém mar de trago doce
durante as noites em que a frustração ácida
quase enlouqueceu os sentidos dormentes,
as mãos ganharam uma metamorfose alada
e levaram-nos marginais à casa de nós mesmos.

No nervoso dos dedos catámos palavras
ansiosamente secretas de um amor calcário,
por entre a via láctea nocturna e marítima
regressámos ao tempo luminoso e disperso
onde nos encontrámos e nos perdemos órfãos
siameses no arame farpado dos dias ociosos,
famintos daquilo que a carne nunca nos deu e
renegando às garras dos sentidos a tal fusão.

Desses voos clandestinos ficou a certeza nua
de que atingimos a cal viva e pura, aquela que
corrói a carne podre, morta, acessória do corpo
e liberta a alma de todas as máscaras fingidas,
deixando-nos assim em ferida-aresta, sangrando,
abertos um ao outro, com a certeza clara de que
estes são os voos secretos, rasando a perfeição.

domingo, 31 de agosto de 2008


E a noite abre-me os olhos

Na serpente enrolada dos dias frios
as estátuas ilusórias rodopiam na poeira,
confundidas no sol, brilham magnéticas,
para além dos vagos montes, imprecisas.
Avançam em aves alucinadas e mudas
calando frustrações do corpo abandonado,
fazendo com que tudo no ar seja incerto.

O sol fere a alma, cegando a frio
a consciência e o lume dos sentidos,
só a brisa da noite me abre os olhos,
só nela sei que quadro oculto é esse
que a mente vai enrolando no linho dos dias,
protegendo a sua identidade e o meu lugar.

É noite e voo rumo a mim, de olhos bem abertos...

Filhos de Dédalo

Dédalo peço-te o que nunca ousei:
- constrói-me umas asas silvestres
com penas de tordos e estorninhos,
enlaçadas com ervas mediterrânicas,
iguais as que construíste para Ícaro.
(O teu filho preferido, mas o mais
irresponsável e ingrato de todos.)

És meu pai e não me amas, como a ele...
Sou a tua filha-cardo da serra árida,
fruto do sémen aquoso de velho criador
com a sua estátua, num sopro de mulher,
abandonada por ti, em pedra de calçada.

Sou refém do rei Minos e de uma vontade
que me suga a alma em círculos orvalhados.
Incapaz de roubar o fio condutor de Ariadne
rumo ao perfil molhado do belo Teseu,
o único capaz de matar este minotauro,
que me galga nas veias de cal e me prende
no bolor, negando-me o voo num céu de luz
livre deste labirinto de Creta, dentro de mim.

Pai, não te posso perdoar, nunca!
Amaste só um dos teus filhos, e logo
aquele que queria tocar o sol, enquanto eu,
livre de mim, sem labirintos, queria amar Teseu...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008


Cleptomania das mãos

Na nebulosa esquina da distância, escravos
de uma idade menor, os silêncios velados,
os olhares de noite escura cheiram-nos
a uma tristeza muda, de terra húmida,
sem o abraço de qualquer salvação possível.

Quando esbarramos na encruzilhada do olhar
apetece-me roubar-te um sorriso luz,
ou ir buscar às escondidas um raio de sol,
para te ensinar que para além da escuridão
brilham galáxias de fogo e campos de paz lunar.
E aqui, nas florestas de lobos e anões-bruxos,
sem farsas de gesso, podes ser quem quiseres
até mesmo quem julgas ser, na verdade de ti.

Na inércia dos papéis diários e convencionais,
as mãos nunca controlam a sua cleptomania
e mesmo à-beira-dos-outros, roubo palavras,
segredos brancos de soslaio, só para te levar,
ao trilho da floresta de cal, onde podes correr
com os lobos nocturnos nas sombras da lua,
afastado das barreiras de aço farpado,
especialmente daquelas com que cortas os pulsos quotidianos.

Toma, roubei para ti mais um olhar em forma de estrela,
tira-o das minhas mãos criminosas e foge com ele,
já que eu tenho de ficar aqui, nocturnamente sem ti...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Laranja metade





No gume inseguro do olhar

a morte renasce,

vaga imagem de outrora

onde o cheiro maduro

das laranjas embriaga:

Bem perto do desejo

Bem perto do fim...



Fogo de laranjas

doce, quente, ácido,

sumo escorrido da mão para a boca

fertilizada com abelhas e terra.



Na noite escura

a fogueira invisível do olhar

espera o cheiro maduro,

dessa laranja metade

Correndo na seiva da manhã.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Canção para um pássaro morto


Em ti havia um pássaro,

bandido dos beirais,

roubava o sol da minha janela

antes de ele me iluminar.

Todas as Primaveras aparecia

acordando-me com o seu canto,

lembrando que o futuro em nós

podia ser já agora, aqui, sem mais nada...


Ontem e hoje não me embalou

com o seu encanto de cristal,

a janela do meu coração ficou

vazia e sozinha na manhã clara,

talvez tenha voado contigo para longe

abrindo a gaiola das minhas mãos.

Hoje morreste-me nesta aurora

e no meu olhar em água corre lenta

a tua canção, a do pássaro morto.




Tráfico de azuis nocturnos


No silêncio inquietante das noites,

entre as fases da lua e o mapa das rugas

que se acumulam em sulcos na pele,

vamos traficando voos feitos de azul...


Rasgamos o quotidiano inerte e branco

com pinceladas secretas da cor visceral,

é um azul-noite tirado das fráguas distantes,

o mesmo que as aves nocturnas catam nas asas

e nós sentímo-lo nos dedos, garras inquietas,

desenhando palavras que o íntimo dita,

para além do nosso corpo, para além

do racional que a nossa mente suspeita ver.


Sim, este foi mais um voo azul, nocturno,

traficando aquilo que não é sensível aos olhos...

e mesmo estas palavras parecem falsas para revelar

a plenitude alada destas noites brilhantes e secretas.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Marca de água


Amanheceu na calma uma chuva inesperada

lavando a alma com línguas transparentes.


Nas folhas jovens escorrem gotículas

revelando às mãos vazias o perfume

adocicado das violetas e das rosas,

o acre bravio do malmequer serrano,

fundido no vento com a menta fresca

e o ácido suculento dos limões maduros.


Estes cheiros desvendam uma figura

observável à transparência dos sentidos,

uma certeza gravada numa marca de água,

entranhada entre o limiar da carne e da pele

e que hoje, misteriosamente, cheira a feliz.


A chuva abre sulcos de água na terra

e desenha risos no jardim labiríntico,

ao som das brincadeiras de criança.

A imagem escondida na pele sorri-me

nos dedos e a tua alegria renova a paz

no muro branco da minha alma lavada,

fico com o teu cheiro nas minhas mãos

transfigurado numa doce marca de água.



O cão de Pavlov em mim



O teu sorriso é um luminoso isco manipulador,

com cheiro de saliva proibida e murta fresca.

Hipnotizada cada dia nessa voragem de dinamite,

finjo para ti a mansidão calma do luar primaveril.

Só nas noites com encruzilhadas de demência

percebo que testas em mim a teoria de Pavlov,

fico condicionada pelo estímulo do teu olhar estrelar

e só penso numa recompensa perigosamente doce...


De cima do meu orgulho, combato-te enraivecida,

fujo para a segurança dos muros nus caiados,

repetindo maquinalmente a mesma pergunta:

«Afinal e na verdade que posso esperar de ti? »

- Nada, eu sei... a não ser sentir-me o cão de Pavlov

salivando à espera de uma recompensa frugal,

por ter cedido ao teu sorriso de Anjo-mau.


Bem sabes que isso jamais te darei o gosto de ser...

assim, à falta de uma arma acutilante nas mãos

dou-te a pólvora seca deste olhar, pronto a matar-te ,

enquanto trauteio “...You`ve a fast gun...” dos Pavlov`s Dog...



segunda-feira, 30 de junho de 2008

Morte anunciada


Nesta esquina angulosa

avança uma mão de ternura

rumo à luz negra do teu olhar

que me torna nua.



Mão transformada em concha

no orvalho da manhã

e no frio das espadas fechadas.



Atiro às paredes

palavras secretas, inconvenientes...

Lançadas ao mar

como um punhal

que te quer ferir,

Matar...

Águas


Dos olhos verdes

A magia da água goteja

Nas folhas novas e inseguras

Do laranjal.

Olhos inundados

Pela onda crescente

Roçando no vento

E na sombra da tua cintura.

Na água

Escorre o perfume a limão

Da minha mão

Embebida nas tuas águas silenciadas

quarta-feira, 18 de junho de 2008



Se o vento
soprar um pouco mais
agitará
águas paradas, silenciadas
num ventre esquecido.

Mas o vento cheio de murmúrios
não traz a voz dos leitos agitados
nem o sol dormindo, ali ao lado.

Só um ventre estéril
sem o leve agitar da mão que passa,
sem anunciar
o zumbir de abelhas na caverna,
nem um espraiar de mar.

Beijo


Ondula no grito das asas e

no sopro do vento nómada

um beijo cego, mudo, nervoso,

há muito prometido e omitido.

Foi vagarosamente esculpido

a frio, nas ondas nuas do mar

e na lava cinza que ali petrificou.


Ele envenena boca a boca,

exterminando todas as certezas

num abismo galáctico de carne.

Espreita numa nesga de medo

entre o olhar e a noite, confiante

que acabará com tudo o que és,

deixando em aberto tudo o que não serás.


É o beijo final, epílogo da última amante,

é o beijo fatal, o sopro vertiginoso da morte.

sábado, 14 de junho de 2008

Mensagem numa garrafa de rum





Na taberna do porto, em círculos

juntam-se os velhos marinheiros,

cachimbo na boca e copo de rum,

entre uma conversa meia calada

e um olhar nostálgico, procuram

no horizonte as sombras de um navio

que nunca há-de vir aquele porto.


Em segredo, continuam também à espera

que venha nas ondas revoltas da idade

uma garrafa de rum com uma mensagem

de uma das mulheres que fingiram amar,

num porto distante antes de partirem.


Mas a garrafa esperada nunca chega,

afinal não foram os únicos a fingir amar...

Mas que lhes importa? Enquanto houver

garrafas de rum cheias para espiar o mar...

Lírios


Entre um olhar e um sorriso

a idade inocente dos lírios,

adocica o ar morno da sala

e apesar das janelas metálicas

despontam braços alados

elevando-me além dos telhados,

além das convenções diárias

dos papéis definidos e pardos.


Na ignorância deste mistério

esfuma-se um perfil de anjo,

fingindo-se chama diabólica

enigma de pássaro tímido,

que nas margens dos outros

se torna presente aqui:

entre os lírios da jarra

e as palavras luminosas

que os copos mudos bebem,

entre um golo e um olhar

perdido na noite solitária,

ruída pela fome de afecto.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Sombra




Na feira perfumada das vaidades

há flores florindo desmedidas,

misturam-se nas calçadas com

as águas intranquilas das praças

onde esta sombra avança muda.

Ela não é o meu corpo distorcido,

cortado pela luz do meio-dia,

ela é um resto incauto de ti,

que entre mim e a vida quotidiana

teima em interpor-se anonimamente.


Invento-te nas palavras que hoje

descarno, distante das brumas e

das esquinas pintadas de noite,

onde nos costumamos corporizar.

Hoje apareces aqui neste chão de pó,

marcado pelos rastos dos animais,

na aurora pálida de silêncio intacto,

na harmonia fingida das palavras

que procuro para te surpreender.


Queria-te hoje presente, de cara destapada,

além da minha sombra, além do nosso tempo,

para além deste poema que rasguei mil vezes,

pois ele é apenas um tronco morto, náufrago,

um resto daquilo que te queria gritar a nu,

mas que as palavras teimam sempre em abafar.


terça-feira, 15 de abril de 2008

Poema abstracto





Num transe surreal, crio-te:
tens alma de bruma inicial,
corpo rasando o nada desta hora ...
Cais-me mudo, em abstracto
pelo papel frio de cal branca,
rodopias neste pincel ocre,
levantando poeiras do que és.

Familiar na esfinge hexagonal
apareces geométrico ao toque.
Desafias-me rindo da paleta:
- és Salvador... mas não Dali;
és Daqui, do meu sangue estéril,
inundando traços em cruz, cegos
de um quadro que não sei pintar.

As mãos estão limpas e castas
renegam as tintas, a tela e a pele,
fogem intactas à carne aquosa
e materializam-te vago, ao acaso:
quadro surreal de arestas angulosas,
corpo de lua, com olhos de fumo-doce,
prisioneiro deste poema abstracto.

Clepsidra


Que pena a clepsidra só medir a água do tempo
e não a força aquosa do mar, pois só ele sabe
as vezes que fomos gaivotas com asas-maresia,
e pés no chão, enterrados à flor dos outros.

Que pena ela não conseguir medir a luz da água
brilhando na fusão total dos olhos em clarão,
sem a obrigação de dar e receber, num sopro
de paz sideral, felizes por estarmos de novo
frente a frente, com a água limpa do nosso olhar.

Que pena a clepsidra não medir a vertigem de saliva
nos sorrisos de soslaio, quando apesar da fronteira
do azul lunar do mar, escrevemos poesia à distância,
com o instinto vital da cria faminta e rasgamos palavras,
em busca da melhor, da mais forte, da perfeita...
Embora saibamos que o mais importante ficará sempre
por dizer, pelo menos até ao nosso próximo poema...

Que pena a clepsidra só medir a água do nosso tempo.

Metáforas de sangue





Papoilas rubras cortando mãos de linho,
cerejas maduras espraiando prazer
à boca escarlate na voragem da saliva.
Óleo vermelho, viscoso, pulsante
nos hibiscos corados de tédio.

Guernica de novo em Sarajevo,
ou num mártir pintado de deus
que se imola na ara das bestas.
Os meus olhos raiados de sangue,
são rajadas de balas no muro
de um pelotão de fuzilamento,
quando te olham sorrindo
cuspindo uma paz assassina
e dizem: - que fiques feliz com ela...

Post-scriptum


Esquece todas as palavras que um dia te disse,
eram somente desenhos infantis e coloridos
eram pó das estrelas, fragmentos de brisa
com cheiro a ondas e brilho de lua cheia,
eram palavras talhadas a fogo, lembrando
tudo o que permanece numa gruta visceral,
vindo à luz do dia em páginas de cal branca
preenchidas com tinta preta e dedos ansiosos.

As palavras que agora de mim ouvirás, perderão
todo o poder encantatório, toda a transgressão,
serão meras palavras, pouco para ti decerto...
mas serão as únicas que saberei dizer ao sol...
Assim, se numa noite de Verão o meu olhar
se acender e as palavras ressuscitarem,
poucos o verão... e tu desviarás o olhar
fingindo não ver o que não quero dizer.

P.S- Este poema é um post-scriptum
para perceberes tudo, sem perguntares nada.