quarta-feira, 27 de agosto de 2008


Cleptomania das mãos

Na nebulosa esquina da distância, escravos
de uma idade menor, os silêncios velados,
os olhares de noite escura cheiram-nos
a uma tristeza muda, de terra húmida,
sem o abraço de qualquer salvação possível.

Quando esbarramos na encruzilhada do olhar
apetece-me roubar-te um sorriso luz,
ou ir buscar às escondidas um raio de sol,
para te ensinar que para além da escuridão
brilham galáxias de fogo e campos de paz lunar.
E aqui, nas florestas de lobos e anões-bruxos,
sem farsas de gesso, podes ser quem quiseres
até mesmo quem julgas ser, na verdade de ti.

Na inércia dos papéis diários e convencionais,
as mãos nunca controlam a sua cleptomania
e mesmo à-beira-dos-outros, roubo palavras,
segredos brancos de soslaio, só para te levar,
ao trilho da floresta de cal, onde podes correr
com os lobos nocturnos nas sombras da lua,
afastado das barreiras de aço farpado,
especialmente daquelas com que cortas os pulsos quotidianos.

Toma, roubei para ti mais um olhar em forma de estrela,
tira-o das minhas mãos criminosas e foge com ele,
já que eu tenho de ficar aqui, nocturnamente sem ti...

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