domingo, 20 de novembro de 2011
Ansiólitico
Ansiolítico
As raízes frias enterram-se arenosas
ramificam-se cada vez mais frágeis,
raquíticas e podres avançam febris
nas convulsões freáticas do chão.
Abro o frasco pacificamente incolor e
de um sorvo engulo mais uma promessa,
um milagre capaz de tirar das entranhas
todas os bolores de uma vida soterrada.
Os olhos procuram-me no vazio, esfumando-se
e com gritos e dor, ao lado dos pulmões abertos,
as costelas rompem-se lancetando os ossos
ai, rompem duas asas negras, parindo-me.
Finalmente repouso, descanso em paz
Voo daqui e no canto levo-me na bagagem…
sexta-feira, 15 de abril de 2011
“Menina dos olhos de água”
Hoje o meu olhar é um leão de papel,
E o meu corpo um barco num ombro
forjado em imagens vãs de mentira.
Não sei se posso aportar nestas vagas
e desfazer os olhos neste mar morto
que me afoga sem máscaras, farsas,
fortalezas, liberta desta tormenta felina.
Era urgente abrir com as unhas a noite
e reentrar na carne amniótica da lua,
desparir-me nos seus ecos maternais...
Mas só no fundo da cal mortal dos algares
encontro a imagem amputada do que fui,
embrulhada numa armadura de malha-de-lã,
Chamam-me gruta segura, sem chuvas precipitadas,
Mas não sabem que só fui fortaleza quando era ave trémula
e ouvia aquele canto sussurrado na lua e nos canaviais:
“ Minha menina… menina dos olhos de água..
eu só por mim quero-te tanto, que não vai haver
menina para sobrar” - fica para mim e deixa-me encantar-te.
Então os peixes eram borboletas-no-estômago,
as águas e as algas escorriam mais verdes e puras
nos meus olhos, até serem um mar de choro e risos
e em ti rebentava uma tempestade com perfume de rosmaninho e limão.
De tudo só ficou a música,
hoje sou pedra de cal corrosiva, esfinge negra, alfazema roxa
caindo por mim abaixo, até ao fundo de um algar, de uma gruta
onde possa desnascer…voltar a ser ribeira de águas limpas…
Mas será em vão:
a menina morreu …
os olhos já não são mar…
e aqui não há rosmaninho, só o ácido do limão…
Subscrever:
Mensagens (Atom)