sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Nada mudou em mim


Os rios podem rebentar
mais fortes e altos
no mar branco e agitado
dos meus dentes e saliva.
As palavras podem ter perdido
cruzes, negros e cardos,
mas continuam as vozes
que silenciosas me prendem,
alheias aos risos do mar
e às palavras das rosas.

Nada se perdeu em mim,
nem sequer as luas rolando nos canaviais,
ou as conchas fechadas, silenciadas.
Caminho
entre as trevas e a luz
rumo à unidade.

E as rosas vão florindo
à sombra dos cardos e das cruzes,
mas ninguém vê que são negras
e não lhes sei dar cor.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Silêncio




Silêncio
nos círculos do chão-charco,
onde petrifico.

Tronco apodrecido
sem alma de gente dentro.
Tronco mortiço
de árvore germinal.
Tronco náufrago
do barco que fui.

Nas mãos torço o silêncio
e escorre por mim abaixo
esta brisa fria e calada.

Sou silêncio, sem salvação.