Amanheceu na calma uma chuva inesperada
lavando a alma com línguas transparentes.
Nas folhas jovens escorrem gotículas
revelando às mãos vazias o perfume
adocicado das violetas e das rosas,
o acre bravio do malmequer serrano,
fundido no vento com a menta fresca
e o ácido suculento dos limões maduros.
Estes cheiros desvendam uma figura
observável à transparência dos sentidos,
uma certeza gravada numa marca de água,
entranhada entre o limiar da carne e da pele
e que hoje, misteriosamente, cheira a feliz.
A chuva abre sulcos de água na terra
e desenha risos no jardim labiríntico,
ao som das brincadeiras de criança.
A imagem escondida na pele sorri-me
nos dedos e a tua alegria renova a paz
no muro branco da minha alma lavada,
fico com o teu cheiro nas minhas mãos
transfigurado numa doce marca de água.
1 comentário:
"chuva abre sulcos de água na terra e desenha risos no jardim"
Gostei especialmente desta frase :)
Enviar um comentário