sexta-feira, 11 de julho de 2008

Marca de água


Amanheceu na calma uma chuva inesperada

lavando a alma com línguas transparentes.


Nas folhas jovens escorrem gotículas

revelando às mãos vazias o perfume

adocicado das violetas e das rosas,

o acre bravio do malmequer serrano,

fundido no vento com a menta fresca

e o ácido suculento dos limões maduros.


Estes cheiros desvendam uma figura

observável à transparência dos sentidos,

uma certeza gravada numa marca de água,

entranhada entre o limiar da carne e da pele

e que hoje, misteriosamente, cheira a feliz.


A chuva abre sulcos de água na terra

e desenha risos no jardim labiríntico,

ao som das brincadeiras de criança.

A imagem escondida na pele sorri-me

nos dedos e a tua alegria renova a paz

no muro branco da minha alma lavada,

fico com o teu cheiro nas minhas mãos

transfigurado numa doce marca de água.



1 comentário:

a.m disse...

"chuva abre sulcos de água na terra e desenha risos no jardim"


Gostei especialmente desta frase :)