quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Poema do vento inconstante


Poema de vento inconstante

Não falo deste vento esterilizado de sal,
falo daquele rumoroso, que esculpe no frio
circular, as brancas fórneas calcárias
e traz aquém-mar o cheiro a mito acre
das velhas plantas serranas e selvagens.

Não falo sequer do vento quente de leste,
sopro do deserto árido queimando as veias,
feiticeiro das paixões viscerais do luar.
Falo daquele vento sonoro, claro e intenso,
capaz de traduzir mil palavras enigmáticas
em diálogos húmidos de silêncio fértil...
É o vento metáfora da errância dos trilhos,
onde as rochas duras do olhar ficam nuas.


Falo daquele vento animal livre e bravio
que te revela neste poema de saudade,
onde o vento inconstante escreve sem cessar
versos marcados com cheiro a rosmaninho,
enquanto nos olivais, a melodia dos melros
eleva no ar, o sopro alado deste reino-doce.