segunda-feira, 23 de abril de 2012

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Rizoma

A raiz com dedos antropomórficos
Remexe a terra, rasgando veias de seiva,
São rizomas secretos prontos a parirem
sem sangue, suor ou dor uma nova planta.
Esta aqui é uma Espada de São Jorge
pronta a matar, envenenando os poros
subterrâneos da pele em metamorfose,
é uma arma verde e amarela acutilante
Pronta a ramificar até ao olhar de pedra.

Outro rizoma avança do caule assexuado
É um casulo de um lírio-de-paz silvestre,
Ou uma crisálida de orquídea violácea
Que procura rasgar e pousar na sombra
De duas cinturas de basalto e calcário,
lá além, onde o rio subterrâneo toca
a cal e cai por gargantas nervosas,
silenciosas que estrangulam as palavras
até à dor das minas sufocantes, castradas.

Silêncios de púrpura macios

Nos dias de finais quotidianos
volto sem mim à casa vazia,
sento-me nas escadas de mim,
na casa alada e nua da infância.
Com as mãos de fantoche recrio
o voo dos pássaros, rasando
os ninhos de argila e feno, agito
os dedos em bailados picados,
cronometrados pela cadência das brisas.

Entranha-se o cheiro doce a alfazema
com os citrinos gulosos do pomar,
surgem, em compasso, os chinelos
da minha avó, marcando o ritmo exacto
das tarefas, traz-me o xaile macio
e no silêncio faz-me um casulo com ele,
para esperar a lua e ouvir os rumores
de andorinhas e estrelas cadentes,
futuras aprendizes de anjos que
já partiram e ainda habitam em nós.

Assim, enraizada entre o Tempo e a casa vazia,
fico nos silêncios de púrpura macios,
Pressinto os anjos na luz dos círios à lua
velando-me na casa verdadeira que habita em mim.
Agora, finalmente abro a porta castrada,
ao fundo, a minha avó oferece-me biscoitos


de mel e canela, para adoçar a dor da amputação
ao entrar ali, na casa grande, sem mim.