terça-feira, 15 de abril de 2008

Poema abstracto





Num transe surreal, crio-te:
tens alma de bruma inicial,
corpo rasando o nada desta hora ...
Cais-me mudo, em abstracto
pelo papel frio de cal branca,
rodopias neste pincel ocre,
levantando poeiras do que és.

Familiar na esfinge hexagonal
apareces geométrico ao toque.
Desafias-me rindo da paleta:
- és Salvador... mas não Dali;
és Daqui, do meu sangue estéril,
inundando traços em cruz, cegos
de um quadro que não sei pintar.

As mãos estão limpas e castas
renegam as tintas, a tela e a pele,
fogem intactas à carne aquosa
e materializam-te vago, ao acaso:
quadro surreal de arestas angulosas,
corpo de lua, com olhos de fumo-doce,
prisioneiro deste poema abstracto.

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