terça-feira, 15 de abril de 2008

Clepsidra


Que pena a clepsidra só medir a água do tempo
e não a força aquosa do mar, pois só ele sabe
as vezes que fomos gaivotas com asas-maresia,
e pés no chão, enterrados à flor dos outros.

Que pena ela não conseguir medir a luz da água
brilhando na fusão total dos olhos em clarão,
sem a obrigação de dar e receber, num sopro
de paz sideral, felizes por estarmos de novo
frente a frente, com a água limpa do nosso olhar.

Que pena a clepsidra não medir a vertigem de saliva
nos sorrisos de soslaio, quando apesar da fronteira
do azul lunar do mar, escrevemos poesia à distância,
com o instinto vital da cria faminta e rasgamos palavras,
em busca da melhor, da mais forte, da perfeita...
Embora saibamos que o mais importante ficará sempre
por dizer, pelo menos até ao nosso próximo poema...

Que pena a clepsidra só medir a água do nosso tempo.

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