quarta-feira, 21 de outubro de 2009


Cafe terrace on the place - Vincent van Gogh

Na chávena de café adoço
a ilusão dos dias imperfeitos,
girando em remoinho a colher
pela memória dos pomares
de limões ácidos e maduros.

Com a brisa nocturna sopram
acordes vagamente salgados
e na plenitude das máscaras
estendo a alma e apresento-me:
- aqui, eu não sou Eu
e tu não és Tu, nem Ele.

O diálogo pinga sobre a mesa
esculpido em monólogo teatral
de palavras vidradas, desencantadas
no fundo dos bolsos poeirentos.

E no silêncio dos nossos ossos
não somos mais que carcaças
de velhos veleiros sem idade,
num cais nocturno e anónimo,
esperando sem vontade nem fé
uma corrente de sul, ou um milagre:
Que te afaste de ti e ele de mim,
Que me naufrague nas outras de mim.

3 comentários:

cão sem raiva disse...

Tás-lhe a dar com força!...
E eu a vê-los passar, que nada faço, tendo como desculpa a preguiça.

Spark disse...

Bonitas palavras. :)

alexandra disse...

Adorei o teu poema - mais este - pleno de sentidos em cada curva da palavra...

Bom Ano Novo!

Beijinhos.