
Trepo pelas linhas de aço fino
de um papel espinhoso e estéril,
ocultando-te no raio de uma vertigem...
Busco o espanto baptismal da cria ao nascer,
cheirando palavras tenras, orvalhadas
impronunciáveis ao vento e à chuva.
Avanço na voragem dos dedos trémulos,
aportando no cimo de mim,
espreito nas arestas o que nunca senti,
mas escorrego....tropeço em ti
e caio em mim, num poema-novelo confuso.
Neste ápice sou funâmbulo do papel farpado
ensaiando acrobacias nas palavras,
procurando o aplauso do público ausente
e o arrepio gelado na tua nuca quando caio
desta teia urdida a ferro e fogo,
verdadeira corda-bamba de letras aladas
que nos algema ao circo da vida,
vivida sempre pela metade, sempre vacilante...
Na última bancada lá estás tu,
sorriso irónico e aplauso metálico, oiço-te gritar:
« Levanta-te, pega nas palavras e voa de novo,
desta vez sem olhares para mim! »